Conto (um sonho) uma realidade quase morte
Hoje acordei pela madrugada
Para passear pela minha escuridão.
Então vi todos mortos, todos.
Porém vivos me olhavam e se mexiam
Procurando o quê devorar.
Estavam famintos, porém eu não tinha o quê lhes oferecer
Senão os vermes que me dilaceraram a carne por outrora.
Está frio. Começou a chover.
Caíam gotas grossas como sangue, o meu sangue,
Que num céu nublado corria até se chocar
Com aqueles desalmados aqui no chão;
Onde todos esperavam pelas respostas
Daquelas perguntas que nos trouxeram para cá.
Escuto um piano sendo tocado, bem tocado,
Por uma mulher sem a metade dos dedos;
Tinha um corpo tão magro
Que mal agüentava mover suas mãos pelas teclas.
Sua língua tinha sido cortada quando criança
E sua alma vendida por um cigarro.
Mas à medida que sua música morta ecoava
Meus vermes,
Que se tornaram uma extensão do meu corpo,
Criavam asas, e voavam, e sufocavam-me
Levando de mim a poesia, o papel, a minha vida.
A mulher parou de tocar.
Ela parou de respirar.
Morreu de câncer.
As borboletas caíram me deixando.
E eu sonhava, descansava, morria.