sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Quarto Escuro


Deixe-me cair

Quieto, isento, insano,

Longe de você e de mim;

No lugar vazio, obscuro, somente meu.

Não gaste mais meu tempo.

Não agora,

Apenas deixe-me cair.

Quem sabe eu tome aquele veneno...

Não hoje.

Não estou em busca do autoconhecimento,

Nem ao menos sei soletrá-lo.

Quero dormir sem me preocupar com o acordar;

Longe da Tv, da janela, daqueles.

Esqueça-me aqui;

Me deixe pensar, perambular e me perder.

Esta noite eu não quero sonhar;

Finja apenas que nunca existi;

Me exorcize se quiser,

Mas me deixe cair.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

não é um versinho não! é uma música.... =D

Bessie Blues

Me leve para longe, baby

Me leve com você;

Aqui está tudo down.

Queria voar.

Cortaram minhas asas;

Não posso mais cantar.

Queria ver a banda tocar

Aquele “Bessie” blues,

Mas você não está aqui.

Cadê meu vinil?

Por que me roubou?

Não me deixe aqui

Sem o meu Rock n’ Roll.

(Amanda Campagnoli)

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Conto (um sonho) uma realidade quase morte



Hoje acordei pela madrugada

Para passear pela minha escuridão.

Então vi todos mortos, todos.

Porém vivos me olhavam e se mexiam

Procurando o quê devorar.

Estavam famintos, porém eu não tinha o quê lhes oferecer

Senão os vermes que me dilaceraram a carne por outrora.

Está frio. Começou a chover.

Caíam gotas grossas como sangue, o meu sangue,

Que num céu nublado corria até se chocar

Com aqueles desalmados aqui no chão;

Onde todos esperavam pelas respostas

Daquelas perguntas que nos trouxeram para cá.

Escuto um piano sendo tocado, bem tocado,

Por uma mulher sem a metade dos dedos;

Tinha um corpo tão magro

Que mal agüentava mover suas mãos pelas teclas.

Sua língua tinha sido cortada quando criança

E sua alma vendida por um cigarro.

Mas à medida que sua música morta ecoava

Meus vermes,

Que se tornaram uma extensão do meu corpo,

Criavam asas, e voavam, e sufocavam-me

Levando de mim a poesia, o papel, a minha vida.

A mulher parou de tocar.

Ela parou de respirar.

Morreu de câncer.

As borboletas caíram me deixando.

E eu sonhava, descansava, morria.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Julia, Julieta, Juliana

Julia, Julieta, Juliana, tanto faz;

Qualquer uma já é demais, é demais para mim.

Tonta destraída meio apaixonada,

Sem rumo vou atrás da desconhecida

Bela encantada sem paradeiro sem nada,

Minha louca, porra-louca;

Me aperta, me beija e me larga.

Saiu correndo...

E eu nem sequer pude perguntar seu nome...

Julia, Julieta, Juliana, tanto faz.

Provocante, estonteante, assaz;

Peço: “Não me chame para dançar”

Porém aí vem ela, docemente me assombrar.

“OK, meu juízo hoje foi viajar”.

Para quê mais me provocar?

Me tome logo antes que você esfrie.

Então subitamente...

Me aperta, me beija e me larga.

Saiu correndo.

Nem sequer pude perguntar seu nome...

Júlia, Julieta, Juliana, tanto faz,

Já não me importo mais;

O vinho me tirou a consciência

E você raptou meu corpo.

Agora estamos na fila dos enrolados.

Hoje ouvi aquela música que você gosta

Enquanto esperava as estrelas dormirem.

Se quiser posso te amar para sempre,

Assim como amo

Julia, Julieta, Juliana.

Dia 12


Não arrume a mala,

Esqueça do jornal na porta

Venha comigo pra qualquer lugar

Que eu fiz te assistindo falar

Na rua demos muito o quê pensar

Dizem que somos amantes

Ou casados, putos ou desempregados

Mas isso não é relevante; não, nada disso

O que você deseja? e se você for só minha?

Quero te ver com aquele meu velho moletom,

de corpo inteiro, jogada na cama, pobre de mim...

Ah! Mas que louco amor tão certo

Já nem sei mais o mês em que estou,

Só sei que ontem foi dia do Santo Antônio

Mas eu prefiro chamar de Meu Dia,

igual aquele, só no cinema

Mas você não gostou dos filmes

Preferiu fazer melhor, bem melhor, comigo.

Inquieta


Saudade é o medo que me apressa,

Me deixa e leva pra longe minha cabeça;

É dor que não existe e arranca a alma pelas mãos,

Que confusa não se acha em nenhum lugar.

Procuro seu rosto na moça passando...

Hoje os deuses se esqueceram que você existe,

Mas eu não.

Quando o metro das sete chegar,

Vou estar exatamente aí,

E se seu corpo não estiver,

Com pedras na garganta,

A danada da saudade que bate bate na porta

Vai me levar,como um gato, por aí.

E se nada der em nada, estarei aqui.

Mas se o gato se perder em si,

Estarei no lago jogando minhas ilusões,

E bem longe esperando o metro das dez;

Hoje não volto para casa, não vou para casa.

Quem sabe eu te encontro no nosso esconderijo

Ou no bar da praça bebendo o vinho que fizemos.

Já está chegando a hora de te encontrar.

Marcamos às sete e trinta.

Mas você só chegou às sete e quarenta.

Gargalhadas de Deus



Hoje Deus olhou de cima e sorriu

Riu, riu, riu,

Gargalhou da minha cara.

Com aquela pose de meter medo em qualquer um

Ele chegou perto de mim e me disse assim:

“Hoje você dorme de meias e amanhã somente Deus saberá”

Com estas meias eu pisei no chão imundo

E andei pelas madeiras molhadas.

E aconteceu que dali até hoje

Ninguém se fudeu tanto quanto eu.

E “Hoje você dorme de meias... blá blá blá blá ...Eu sou Deus!”

Minha garota se casou com o Ricardão.

Peguei meu pai na cama com meu irmão;

Minha prima ta grávida de mim.

Meu patrão me trocou por um tal de Joaquim.

Perdi cem contos numa festa por aqui,

Saquei 600, fui assaltado logo ali.

Hoje indo pra casa fui seguido por travecas

Levaram tudo meu e me deixaram de cueca.

Hoje eu durmi de meias e amanhã serei ateu

Deus sou eu.

Nada por acaso


Mera poesia

Falso mero acaso de um acontecido do lado do avesso

Que de tão travesso roubou-me a vez

De ficar tão somente sobre modo tal, quase dado,

Agarrado, junto, bem junto a ti.

Homem da neblina, se queres levar a porta de minha perdição embora,

Espere um minutinho que eu enxugo, amacio, embrulho e enfeito e te entrego...

Beba e sinta-se saciado,

Pois pela manhã não mais existirá a luz do dia;

O Sol que brilha em você é aquecido por mim.

Hoje não espere flores.

Digo a você, meu pecado maior,

O qual me desapego sem dó.

E ao “da neblina” assim cabem flores,

As mais fúnebres.

Bom dia meu arrependimento, que me tomou em forma de mulher;

E que desapareceu com a noite.

Veja! Você pode ver? Bem do outro lado do jardim...

Ainda existem borboletas

Que me arrastam por milhas e milhas, me sufocam,

Fazem-me escutar coisas que não existem em minha imaginação.

Se eu morrer aqui, minha poesia continuará a ser escrita;

Não me pergunte como

Eu estarei morta, mas um outro poeta não.

Espero que esse poeta não conheça esse mesmo caminho

Essa porta que abre para o paraíso e para o inferno

Que de tão real mete medo até no Seu Sebastião,

Padre formado, mas tarado,

Que gosta de andar sob a neblina de vez em quando.